
Todo mundo sabe que se exercitar faz bem à saúde. Mas as razões metabólicas por trás desses benefícios ainda não são totalmente claras para a ciência.
Agora, cientistas chineses deram um novo passo na direção da compreensão dos benefícios das atividades físicas. E a nova pista é uma molécula produzida pelos rins: a betaína.
Os pesquisadores, de universidades e hospitais na China, conduziram um estudo com 13 homens saudáveis para comparar as diferenças do corpo em descanso, após correr 5 km, e depois de um programa de 25 dias de treinos de corrida consistentes. Eles descobriram que os treinos a longo prazo aumentaram os níveis de betaína no corpo.
Com uma pesquisa complementar de laboratório em ratos, foi possível visualizar a ação da betaína: ela bloqueia enzimas inflamatórias e promove efeitos “antienvelhecimento”. O estudo foi publicado na revista Cell.
Quer dizer que, no futuro, teremos pílulas de betaína e não precisaremos mais nos exercitar? Não exatamente. Mas a descoberta abre caminho para o desenvolvimento de alternativas para um envelhecimento mais saudável a pessoas impossibilitadas de fazer atividade física.
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Como funciona a betaína?
Presente em animais e plantas, a betaína é produzida naturalmente pelos rins. Em humanos, também pode ser absorvida por meio da alimentação. A molécula está presente no trigo, no espinafre e nas beterrabas, por exemplo. Quando ingerido, vai principalmente para os rins, mas também para o fígado e o cérebro.
Importantes funções fisiológicas são desempenhadas por ela: cientistas já sabiam do efeito anti-inflamatório. No entanto, o novo estudo esclarece as vias de ação dessa molécula. Os pesquisadores olharam para mudanças nos genes, nas proteínas, no sistema imune e em moléculas como a betaína nos participantes do estudo e em ratos.
Os treinos consistentes estimulam a produção da betaína, que se liga a quinases, tipos específicos de enzimas, retardando as vias metabólicas relacionadas ao envelhecimento. Ao administrar a betaína em ratos, os pesquisadores notaram efeitos geroprotetores (ou seja, que retardam o envelhecimento das células).
A betaína também ajuda a explicar outra questão sobre o exercício físico: enquanto um treino único, como uma corrida de 5km, causa estresse ao corpo, correr consistentemente melhora vários indicadores. Nos humanos participantes do estudo, houve inclusive melhorias na microbiota intestinal e no sistema imune. Essa ação está relacionada ao bloqueio das enzimas inflamatórias.
Próximos passos
A descoberta não deve se traduzir em suplementos de betaína para substituir as atividades físicas. Aliás, os cientistas sequer tem a clareza de que administrar betaína para humanos seria seguro ou benéfico, já que a molécula só foi administrada em ratos no estudo.
Em geral, há um consenso científico de que uma pílula ou composto não pode mimetizar todos os efeitos dos exercícios físicos. Além das melhorias nos indicadores que podem ser vistas em exames, fazer atividade física faz bem à saúde mental e tem vários outros impactos.
O estudo só avaliou os efeitos da corrida. Vale destacar que, para envelhecer com saúde, a musculação também é essencial, bem como outros tipos de atividade.
Mas é verdade que a pesquisa mostra um caminho promissor para novos estudos. Investigar as vias por meio das quais a betaína ajuda a manter o corpo mais saudável pode revelar formas de ajudar pessoas que não podem se exercitar a ter benefícios similares aos causados pelas atividades físicas.
Também é importante destacar que os cientistas não estão focados no emagrecimento. Aqui, a ideia não é avaliar a queima calórica gerada pelos exercícios.
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