Conviver com alguém que tem epilepsia não é fácil. As crises podem surgir de repente, causar quedas, machucados, abalo emocional e muito medo em quem está por perto. Muitas famílias passam anos trocando medicamentos, ajustando doses e vivendo em alerta, sem saber que existe outra possibilidade de tratamento: a cirurgia para epilepsia.

Ao contrário do que muitos imaginam, a cirurgia não é o último recurso. Para alguns pacientes, ela é justamente a melhor forma de controlar as crises por completo e recuperar a independência – inclusive a possibilidade de trabalhar, estudar, dirigir e viver com segurança.

Quando a cirurgia começa a ser considerada

A cirurgia é indicada para pessoas com epilepsia de difícil controle (refratária), ou seja, que continuam tendo crises mesmo usando dois ou mais medicamentos diferentes, nas doses corretas. Isso pode acontecer com até 30% dos pacientes.

Nesses casos, o problema costuma estar em uma área específica do cérebro que produz descargas elétricas anormais. A função da cirurgia é tratar essa região para impedir que as crises aconteçam.

É importante saber: ninguém vai para a cirurgia sem uma investigação completa. O paciente passa por exames detalhados para entender exatamente de onde as crises vêm. Tudo é feito com muita segurança.

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Quais são os tipos de cirurgia e como elas ajudam

Dependendo do tipo de epilepsia, existem diferentes abordagens:

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  • Retirada da área que causa as crises – é a cirurgia mais comum. Quando a região do cérebro que provoca as crises pode ser removida com segurança, os resultados costumam ser excelentes.
  • Desconexões – em vez de remover a área, o cirurgião interrompe a comunicação entre ela e o restante do cérebro, impedindo que as crises se espalhem.
  • Dispositivos de estimulação – pequenos aparelhos implantados no corpo ajudam a controlar as crises, como a estimulação do nervo vago (VNS) e a estimulação cerebral profunda (DBS).
  • Cirurgia a laser (LITT) – método menos invasivo, guiado por ressonância magnética, que trata áreas profundas com alta precisão.

A escolha depende de muitos fatores. O importante é que todas essas técnicas já são usadas há anos e apresentam ótimos resultados quando bem indicadas.

O que muda na vida do paciente depois da cirurgia

Para muitas pessoas, a cirurgia significa um recomeço. Estudos mostram que grande parte dos pacientes operados, especialmente os com epilepsia do lobo temporal, fica completamente livre das crises. Mesmo quando a eliminação total não acontece, a redução da frequência e da intensidade já transforma o dia a dia.

Isso pode significar:

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  • Voltar a estudar sem medo;
  • Recuperar a independência para sair sozinho;
  • Trabalhar com mais segurança;
  • Retomar a autoestima;
  • Melhora da memória e da atenção;
  • Menos internações, machucados e episódios traumáticos

A cirurgia também ajuda a proteger o cérebro do desgaste causado por crises repetidas, algo que muitas famílias só descobrem tardiamente.

Por que a família tem papel fundamental

A decisão pela cirurgia envolve diálogo, acolhimento e compreensão. É comum que o paciente tenha medo do procedimento ou carregue dúvidas antigas sobre riscos e benefícios. A presença da família nesse processo traz segurança e favorece a recuperação emocional, que também faz parte do sucesso do tratamento.

A epilepsia não define quem a pessoa é, e a cirurgia pode devolver uma parte importante da vida que a doença tirou. Para muitas famílias, é a chance de enxergar um futuro mais leve, previsível e cheio de possibilidades.

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Se você convive com alguém que ainda sofre crises frequentes, vale conversar com um especialista em epilepsia para entender se essa opção pode transformar a história do seu familiar.

*Baltazar Leão é neurocirurgião, professor adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, membro da Brazil Health

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(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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