Abril Marrom é um mês dedicado à conscientização sobre a importância de cuidar da saúde dos olhos. E os brasileiros estão deixando a desejar nesta seara. Segundo um novo levantamento nacional, 29% dos pacientes com doenças oculares que causam cegueira abandonaram o tratamento em algum momento.
“As razões vão desde a falta de informação sobre a importância do cuidado a longo prazo até motivos logísticos e financeiros“, avalia Maria Antonieta Leopoldi, vice-presidente da Retina Brasil, associação de pacientes com doenças da retina que foi parceira na organização da pesquisa.
O estudo foi realizado por pesquisadores da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV/CPDOC) e teve apoio da Roche Farma Brasil.
O levantamento ouviu 155 brasileiros com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e edema macular diabético (EMD), duas das principais causas de cegueira a partir dos 55 anos.
Três em cada cinco participantes tinham 60 anos ou mais e cerca de um terço estava em tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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Na hora do diagnóstico
O estudo foi feito para avaliar a qualidade de vida dos pacientes e as principais dificuldades enfrentadas no tratamento de doenças oculares que, hoje, afetam mais de 1,4 milhão de brasileiros — e contando! Em cinco anos, estima-se que o número deve chegar a 1,7 milhão, por conta do aumento de casos de diabetes, fator de risco para ambas condições.
“A DMRI e o EMD são condições que afetam a área central da retina — a mácula, responsável pela nitidez da visão — e prejudicam atividades de rotina como dirigir, ler ou até fazer compras no supermercado”, explica Patrícia Kakizaki, oftalmologista e especialista em retina clínica e cirúrgica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com o estudo, 67% dos pacientes iniciaram o tratamento bem informados e afirmaram que, logo na primeira consulta, o médico explicou detalhes da doença e de como seria o tratamento.
Terapias oculares
Tanto a DMRI quanto a EDM são doenças que precisam ser tratadas com injeções intravítreas para retardar a evolução dos danos à visão. Isso quer dizer que medicamentos são aplicados diretamente no olho por um injeção, procedimento que deve ser feito por profissional de saúde capacitado, dentro de um consultório.
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No entanto, menos da metade dos pacientes dizem que estavam cientes desse procedimento, de modo que foram pegos de surpresa sobre o tratamento, que também envolve o controle de outras doenças crônicas e a adoção de hábitos saudáveis.
“O tratamento pode exigir a aplicação de injeções intravítreas até uma vez por mês, representando um peso grande para os pacientes e familiares”, destaca Kakizaki.
Na amostra, apenas 55% já havia passado pela aplicação — taxa que foi muito maior entre quem tinha DMRI úmida (91%) do que pacientes com EMD (69%) e DMRI seca (30%).
Impacto do tratamento
As injeções são as melhores opções de tratamento que se tem hoje, ainda que as terapias possam incluir medicamentos orais e até laser.
“Hoje, estamos acompanhando o desenvolvimento de inovações capazes de impedir a progressão dessas doenças, estabilizando ou muitas vezes até melhorando a visão dos pacientes, além de proporcionar mais comodidade, diminuindo a frequência do tratamento e a necessidade de deslocamento até os consultórios e as clínicas”, pontua a oftalmologista.
Ainda assim, o tratamento também é desgastante. Mais de 60% dos entrevistados informaram que a doença causou impacto financeiro no seu cotidiano e 47% dos entrevistados admitem que precisaram ou gostariam de ter apoio psicológico para enfrentar a doença.
Além disso, 19% já precisou recorrer a algum tipo de reabilitação ou recurso de apoio devido à baixa visão, como celulares com tecnologias assistivas.
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