A cada ano, são registrados cerca de 45 mil casos de câncer de intestino no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A doença, também chamada de câncer de cólon e reto ou colorretal, envolve tumores iniciados no intestino grosso até o reto, a estrutura imediatamente anterior ao ânus.
Em geral, os episódios estão associados a lesões benignas crescidas na parede interna do órgão digestivo, os pólipos. Nem sempre eles virarão tumores, mas podem precedê-los.
O diagnóstico precoce favorece o tratamento e evita o espalhamento para outros órgãos. Embora o câncer colorretal seja mais comum em pessoas acima dos 50 anos, há um crescimento dos casos entre jovens adultos.
“As causas para este aumento são multifatoriais, relacionadas principalmente a questões comportamentais como mudanças nos hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade”, afirma Vanessa Montes, coordenadora médica da oncologia do Hospital Municipal Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho, unidade gerenciada pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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O que é o câncer colorretal?
O câncer colorretal é um tipo de tumor que se desenvolve no cólon ou no reto, que são estruturas do intestino grosso.
“O cólon é responsável por absorver água e nutrientes, enquanto o reto é a parte final, que armazena as fezes antes da evacuação. Quando excluímos os tumores de pele não melanoma, o câncer de cólon e reto ocupa a terceira posição entre os tipos mais frequentes no Brasil”, explica Montes.
O tumor pode evoluir e atingir outros órgãos. Isso acontece especialmente em casos de diagnóstico tardio.
Sintomas do câncer colorretal
Os indivíduos afetados podem manifestar sintomas como sangue nas fezes, diarreia, prisão de ventre, fraqueza, perda de peso, cólica e dor abdominal, além do inchaço e crescimento de tecido anormal na região.
A questão é que alguns desses sinais também são observados em outras condições, como hemorroidas, úlceras ou doenças intestinais. Por isso, diante da suspeita, há necessidade de avaliação especializada para confirmação.
A investigação começa pelo relato do paciente e exame físico conduzido pelo médico, além de testes complementares, como explica o oncologista Thiago Jorge, coordenador do Setor de Tumores Gastrointestinais do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“O exame mais comum para o diagnóstico é a colonoscopia, que permite visualizar o interior do intestino grosso e reto com uma câmera. Assim, conseguimos coletar uma amostra do tumor para confirmar, em um laboratório de patologia, se realmente trata-se de um câncer”, explica Jorge.
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Além disso, entram em cena outros procedimentos para avaliar o nível de avanço do agravo, chamado tecnicamente de estadiamento.
“Nessa fase, realizamos exames como tomografias, PET-CT e ressonâncias. Além disso, tornou-se muito importante também os testes moleculares, que nos ajudam a definir o comportamento da doença e, consequentemente, os melhores tratamentos”, acrescenta o oncologista.
Quais são os fatores de risco?
Em grande parte, o desenvolvimento da doença está relacionado ao estilo de vida e padrão de alimentação.
“Os principais fatores de risco estão associados a questões comportamentais, como obesidade, sedentarismo, consumo regular de álcool e tabaco e baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras”, destaca Montes.
“Existem também registros vinculados a condições genéticas ou hereditárias, como doença inflamatória intestinal crônica, histórico pessoal ou familiar de câncer colorretal, além de síndromes hereditárias, como a Síndrome de Lynch, em cerca de 5% dos casos”, acrescenta a médica.
A exposição ocupacional à radiação, como o contato de profissionais com raios X e gama, também favorece o surgimento do agravo, de acordo com o Inca.
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Tratamento individualizado
A escolha pela linha de tratamento considera características particulares de cada paciente, como tamanho, localização e extensão do tumor. Nessa seara, podem ser utilizados recursos como cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
“Em alguns casos, pode ser necessária um procedimento cirúrgico para remover o tumor. Caso parte do intestino precise ser retirada, o paciente precisa usar uma bolsa de ostomia para coletar as fezes. Esse equipamento pode ser temporário ou permanente, dependendo do tipo e extensão da cirurgia e da recuperação do paciente”, detalha Montes.
As complicações mais comuns no câncer colorretal são obstrução intestinal, perfuração, sangramento, infecções, recidiva do câncer ou aparecimento de metástases. “O acompanhamento médico adequado é fundamental para detectar e tratar essas condições precocemente”, reforça Montes.
Para alguns pacientes, o agravo se torna difícil de tratar devido a um mecanismo de resistência às medicações desenvolvido pelo tumor. Trata-se de uma característica que faz com que nem todas as células tenham as mesmas propriedades, sendo algumas sensíveis ao tratamento e outras não.
“Isso cria uma seleção, ou seja, as células tumorais mais resistentes sobrevivem e proliferam, sendo necessárias outras estratégias, como trocas de medicação ou associação de cirurgias e outras terapias. Felizmente, com o desenvolvimento e ampla adoção dos testes de sequenciamento genético, estamos descobrindo quais mecanismos eles usam para essa resistência, e diversas novas estratégias estão em estudo para sua utilização”, explica Jorge.
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Quais são as formas de prevenção do câncer de cólon e reto?
Em suma, o tripé para se manter longe do câncer colorretal consiste na manutenção do peso adequado, atividade física e alimentação saudável — o que de quebra já é uma boa estratégia para se livrar de um grande número de encrencas.
“A prevenção inclui uma alimentação equilibrada, rica em fibras, frutas e verduras, prática regular de exercícios físicos, evitar o tabaco e o álcool, manter um peso saudável e realizar exames de rastreamento, como a colonoscopia, a partir dos 45 anos ou antes, se houver fatores de risco”, pontua Montes.
Além disso recomenda-se evitar o consumo de carnes processadas e embutidos e limitar o consumo de carnes vermelhas.
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