A informação é um artifício poderoso para a identificação e o tratamento oportuno de doenças. Estabelecer uma relação de confiança entre médico e paciente é fundamental para que qualquer tabu fique do lado de fora do consultório.

Isso é especialmente importante no caso das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), uma vez que o medo e a vergonha ainda contribuem para o atraso e a subnotificação dos casos. No caso de relações sexuais anais, o fenômeno se amplia ainda mais.

Infecções bacterianas como clamídia e gonorreia, por exemplo, geram no ânus sintomas como dor, secreção com pus e sangramento. O diagnóstico, feito pela avaliação médica, pode ser confirmado com testes de laboratório. Essas infecções são curáveis com o uso correto de antibióticos. Vale destacar que quanto antes se buscar o tratamento, melhores serão os resultados.

Outro exemplo de IST que pode ser transmitida via sexo anal é o HPV (papilomavírus humano). Um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde em 2023 aponta a presença do agente em 54,4% das mulheres e 41,6% dos homens. A infecção pode levar ao surgimento de verrugas na região genital e anal.

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Em cerca de 90% dos casos, o câncer de ânus tem relação com o HPV. Embora a incidência seja baixa, houve um aumento de 2,7% ao ano, entre 2001 e 2015, segundo estudo publicado no Journal of Clinical Oncology. Além disso, o risco é 19 vezes maior entre pessoas que vivem com HIV em comparação com o restante da população.

O vírus se implanta nas células da anoderme, a pele em torno do ânus, e na zona de transição anal, região onde a anoderme se funde com a mucosa retal. Ali o micro-organismo permanece, causando mutações que se acumulam ao longo de 10 a 20 anos, levando ao desenvolvimento do câncer.

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Nessa janela, pode ser realizado um exame semelhante ao Papanicolau, chamdo de citologia anal. No procedimento, as células do tecido são coletadas com uma escova e analisadas no microscópio à procura dessas mutações.

Esse teste é simples, barato e disponível, porém não é tão eficaz quanto a anuscopia de magnificação. A investigação feita no consultório, com auxílio de um microscópio, permite avaliar as células da zona de transição anal e anoderme em tempo real e localizar as áreas suspeitas.

Embora ainda seja mais cara e pouco disponível, a técnica tem se popularizando devido a sua eficácia e deve ser feita apenas em pacientes com risco elevado de câncer de ânus.

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Prevenção combinada

Hoje, as estratégias de prevenção de ISTs contam com outros recursos além da tradicional camisinha.

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No caso do HIV, por exemplo, existe a profilaxia pré-exposição (PrEP), baseada na adesão a medicamentos para a prevenção do contágio pelo vírus. Confira um guia completo sobre a estratégia.

Um recurso emergencial para o HIV é a terapia pós-exposição (PEP), disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), e que consiste no uso de medicação para impedir a replicação do vírus e diminuir o risco de contágio. No entanto, ela deve ser iniciada dentro das primeiras 72 horas após a possível exposição.

Vale ressaltar também que a vacina HPV quadrivalente (que previne contra os tipos de HPV 6, 11, 16 e 18, relacionados a câncer de colo do útero, vulva, vagina, pênis, orofaringe e anal, além das verrugas genitais) está disponível no SUS para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos e imunossuprimidos até 45 anos, além de vítimas de abuso sexual.

A prevenção é sempre o melhor caminho. Então, caso o uso de preservativo falhe, lembre-se que existem outras possiblidades, como a terapia pós-exposição para o HIV, a vacinação contra o HPV, a citologia anal e a anuscopia de magnificação, que devem ser buscadas tão logo se iniciem as suspeitas de contágio. Em caso de dúvidas, procure um coloproctologista .

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*Lucas Gerbasi é coloproctologista e membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

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