
Em 2025, cerca de 704 mil brasileiros foram diagnosticados com câncer — sendo que a maioria dos pacientes descobre a doença já em estágio avançado, tornando o tratamento mais desafiador.
Mas, com o devido rastreamento, é possível flagrar a doença em fases iniciais e, em alguns casos, até na etapa em que a lesão é ainda pré-cancerosa, ou seja, há a presença de células anormais, mas elas ainda não se tornaram malignas.
Exames preventivos, como o papanicolau e a colonoscopia, visam flagrar justamente danos como esses para evitar o desenvolvimento de tumores.
Entre as lesões pré-cancerosas mais comuns estão os pólipos adenomatosos, que surgem no intestino e podem evoluir para o câncer colorretal, e as lesões intraepiteliais escamosas (conhecidas como NICs), que podem anteceder o câncer de colo do útero.
Há também a queratose actínica, que surge quando a pessoa se expõe muito ao sol e pode preceder o câncer de pele, e os carcinomas ductais e lobulares in situ, que estão ligados a um maior risco de câncer de mama.
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A identificação de lesões pré-cancerosas é essencial à prevenção de vários tipos de câncer. Por isso, o tema foi discutido durante o último congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo), realizado em outubro, em Berlim, na Alemanha.
No evento, especialistas falaram sobre as principais características dessas formações e o que pode levar ao aparecimento e evolução delas. A seguir, entenda o que é uma lesão pré-câncer e quais são as seis marcas registradas dela.
O que é o pré-câncer?
“As lesões pré-cancerosas são anormalidades que surgem em tecidos do nosso corpo, mas não chegam a ser tão severas para serem classificadas como câncer”, descreveu o patologista Jos Jonkers, do Instituto do Câncer dos Países Baixos, em apresentação no congresso europeu. “As células de câncer, por sua vez, passam por alterações mais significativas, que permitem que se reproduzam de maneira desenfreada.”
Entre outras distinções, o pré-câncer se diferencia por não ter a capacidade de migrar para outros tecidos, ao contrário do câncer, que pode se espalhar para outras partes do corpo, além da região onde se desenvolveu (processo chamado de metástase).
Além disso, nem toda lesão pré-cancerosa, de fato, se transforma em câncer. Em geral, elas podem ser completamente removidas em procedimentos cirúrgicos, e algumas podem ser apenas monitoradas.
“Um dos principais desafios é distinguir quais lesões progredirão e quais permanecerão indolentes”, avalia o médico e professor da Universidade de Leiden.
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As marcas registradas do pré-câncer
Ao estudar o que causa e como evoluem as lesões pré-cancerosas, os cientistas observaram algumas características comuns a esses casos. As alterações genéticas, o processo natural de envelhecimento e a inflamação crônica são os principais fatores que levam ao aparecimento do problema.
Abaixo, confira quais são as seis marcas registradas do pré-câncer.
1. Envelhecimento genético
Nada escapa ao processo de envelhecimento — nem o nosso DNA.
Com o avanço da idade e influência de maus hábitos ao longo da vida, falhas na reprodução do material genético podem se tornar mais comuns e abrir caminhos para lesões pré-cancerosas.
O encurtamento dos telômeros, que são estruturas que protegem as extremidades dos cromossomos, é uma dessas mudanças, que torna o material genético mais instável e passível a problemas.
2. Mudanças epigenéticas
Há também um estado chamado de deriva epigenética, na qual mudanças aleatórias determinam quais genes são expressos ou não — como se alguns passassem a ficar adormecidos e outros começassem a atuar descontroladamente.
Um processo chamado de metilação do DNA, que é responsável por interromper a expressão de alguns genes, pode ficar desregulado e acabar permitindo que alterações pré-cancerosas surjam no corpo.
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3. Alterações metabólicas
O metabolismo também pode desandar e modificar o comportamento celular, prejudicando processos de respiração e produção de energia pelas células do nosso corpo. É um marcador comum também entre diversos tumores.
4. “Sequestro” celular
Nesse caso, processos que inicialmente seriam benéficos, como reparos em tecidos machucados, se transformam em vias que abrem espaço para o crescimento de células alteradas. Geralmente isso acontece em resposta a algum tipo de inflamação, estresse ou irritação crônica.
5. Colapso da vigilância
Principalmente com o avanço da idade, o nosso sistema imunológico pode não funcionar como antes. As células T e as chamadas “natural killers”, que flagram alterações que colocam a nossa saúde em risco, vão gradualmente perdendo a capacidade de combater anormalidades, permitindo que células pré-cancerosas ou cancerosas fujam das garras da nossa imunidade e se estabeleçam.
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6. Remodelação do ambiente
O envelhecimento também afeta as várias camadas de tecido do nosso corpo. A senescência das estruturas que dão sustentação aos órgãos e dos fibroblastos, que têm um importante papel na cicatrização de tecidos, promove inflamação e tornar o ambiente propício ao aparecimento de lesões pré-cancerosas.
*A jornalista viajou a Berlim a convite de Bayer Brasil e Galápagos Newsmaking
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