Novembro… mês do diabetes e do câncer de próstata… mas vamos focar no diabetes?

No ano passado fizemos uma pesquisa com 1.843 pessoas no país. Os dados foram muito impactantes. 30% dos entrevistados estão com a hemoglobina glicada elevada e 47% não se lembram para que serve este exame.

Outro dado que contribui substancialmente para mostrar a falta de gerenciamento do diabetes é que 58% dos participantes da pesquisa fazem acompanhamento com médicos de família, ao invés do endocrinologista, que tem especialização sobre a condição.

Em decorrência desta dificuldade de acesso ao tratamento e de um acompanhamento de profissional especializado, somente 59% foram orientados pelo médico de base a passar pelo oftalmologista, mas 41% nunca receberam esta orientação.

Como resultado destes dados, 49% da amostra se refere a problemas de visão, sendo que 12% têm o diagnóstico de retinopatia diabética, 10% nefropatia diabética, 32% neuropatia diabética, 4% já sofreram algum tipo de amputação, 25% alguma doença cardiovascular e 10% têm feridas no pé.

Os investimentos do SUS só aumentam. Em doenças renais, por exemplo, superam ao ano 4 bilhões de reais. Se o Ministério da Saúde pudesse motivar as secretarias de saúde a desenvolverem um programa de gerenciamento do diabetes na Atenção Primária, estes valores poderiam cair pela metade.

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Percebemos que falta muita orientação por parte dos profissionais de saúde para as pessoas com a condição, que por sua vez reflete na falta de gerenciamento da condição.

Uma nova luta

Mesmo com este panorama do diabetes, acreditei até então que a minha luta por melhor acesso ao tratamento do diabetes e de obesidade era suficiente. Mas percebi que não… tive contato com uma doença chamada lipodistrofia generalizada congênita, também conhecida como Síndrome de Berardinelli, que origina muitas doenças, entre elas o diabetes.

Fui gravar uma campanha em Natal, no Rio Grande do Norte, devido à incidência alta desta doença na região: 2 a cada 100.000 habitantes. Fiquei muito emocionada e surpresa com os depoimentos. As dificuldades de acesso ao tratamento são piores, comparadas ao diabetes.

É uma doença rara, que poucas pessoas conhecem. Como desdobramento: muitos brasileiros morrem sem saber do diagnóstico primário, pois nem os profissionais de saúde têm conhecimento da condição.

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Sem citar que muitos diagnosticados com a lipodistrofia não conseguem a medicação pois não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e, por isso, acabam falecendo muito cedo.

O que é a lipodistrofia congênita e suas complicações

A lipodistrofia congênita é caracterizada pela incapacidade do organismo de manter o tecido adiposo subcutâneo, o que pode levar ao desenvolvimento de outras doenças como diabetes, esteatose hepática, complicações renais, cardiomiopatia, hipertensão e pancreatite, além de depressão devido ao estigma causado pela alteração das feições e do corpo.

Além disso, devido à falta de gordura corporal, as pessoas têm características físicas diferentes que muitas vezes levam ao estigma e ao preconceito da população por desconhecimento da condição.

Com desconhecimento da lipodistrofia, muitas destas pessoas são tratadas devido às outras condições associadas — como diabetes, esteatose hepática e hipertensão arterial — e não sabem que a doença primária é a lipodistrofia.

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Por isso, resolvemos fazer a campanha Lipodistrofia: o corpo que reclama” com depoimentos de pessoas com a condição, assim como o médico referência na condição, Dr. Josivan Lima. Convido para assistir ao minidocumentário clicando aqui.

De qualquer forma, estamos no Mês do Diabetes… precisamos sempre falar da condição e de suas doenças associadas, assim como da lipodistrofia. O Vozes do Advocacy, Federação de Associações e Institutos de Diabetes e Obesidade, acredita que todas as pessoas merecem viver com dignidade, autonomia e acesso ao cuidado.

Nosso papel é unir vozes, somar forças e seguir avançando pela equidade, justiça, igualdade e universalidade, princípios do nosso SUS.

*Vanessa Pirolo é jornalista, Presidente do Vozes do Advocacy e da Federação de Associações e Institutos de Diabetes e Obesidade, coautora do livro Doenças Crônicas – Saiba como Prevenir (Labrador).

 

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