A doença pulmonar obstrutiva crônica, conhecida pela sigla DPOC, afeta algo essencial à vida: nossa capacidade de respirar. O problema se manifesta quando os pulmões sofrem danos, geralmente progressivos, que dificultam a condução do ar pelas vias respiratórias.

Por ser progressiva, se não for identificada e tratada a tempo, a DPOC tende a piorar ao longo dos anos. Os danos nos pulmões se devem à inflamação e à destruição das vias aéreas e dos pequenos sacos de ar (alvéolos), o que dificulta a absorção de oxigênio e a eliminação do gás carbônico produzido pelo organismo.

Essa situação se traduz em sintomas como falta de ar (dispneia), tosse persistente, muitas vezes com produção de catarro, além de cansaço inexplicável por outros motivos (fadiga).

Pessoas com DPOC têm limitações para atividades simples como subir um lance de escadas, caminhar algumas quadras ou até mesmo conversar sem sentir falta de ar. A perda do fôlego limita a participação em atividades sociais, podendo levar ao isolamento, ansiedade e depressão.

Por isso, é muito importante prestar atenção aos sinais e sintomas iniciais. É comum que eles sejam interpretados como “coisa da idade”, um “resfriado mais forte” ou apenas o “cansaço do dia a dia”. A confusão e o negligenciamento podem atrasar o diagnóstico e o tratamento adequado.

Fatores de risco que não podem ser ignorados

A principal causa da DPOC ainda é o tabagismo, seja ativo ou passivo, mas outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento da doença, como a inalação de fumaça oriunda da queima de lenha e a poluição do ar.

No Brasil, a taxa de mortalidade atribuída à poluição do ar ambiente é de 23 a cada 100 mil pessoas. A OMS estima que 20% dessas mortes são causadas por infecções respiratórias agudas das vias aéreas inferiores e 9% por doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Além disso, infecções na infância e fatores genéticos também podem causar a DPOC.

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Dados do Ministério da Saúde alertam que, embora a incidência seja maior em idosos e tabagistas, ninguém está imune, pois o contato com os fatores que provocam a DPOC pode ocorrer em qualquer idade.

Isso reforça a urgência da prevenção e, principalmente, do diagnóstico precoce. Nós, profissionais da área, testemunhamos diariamente o impacto da DPOC na vida de milhões de brasileiros e, nossa missão, além de assistir a esses pacientes, é orientar para que mais pessoas se previnam e possam ter uma vida plena, apesar da doença.

A DPOC é também um enorme desafio para a saúde pública. As estimativas mostram que cerca de 14 milhões de brasileiros vivem com a doença – a maioria ainda sem diagnóstico –, figurando entre as principais causas de morte por problemas respiratórios em nosso país.

Além da perda de vidas, a DPOC é responsável por um alto número de internações hospitalares e por afastar muitas pessoas de suas atividades de trabalho, gerando um impacto social e econômico significativo.

Como a DPOC é diagnosticada

O diagnóstico da DPOC é feito através da avaliação dos sintomas, dos fatores de risco e da realização de um exame chamado espirometria que avalia o fluxo de ar nas vias respiratórias. É um teste rápido e indolor que mede a quantidade de ar que a pessoa consegue inspirar e expirar, e a velocidade com que o faz. É um exame capaz de confirmar a obstrução do fluxo de ar e sua gravidade.

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O diagnóstico correto é a chave para iniciar um tratamento eficiente e evitar que a doença progrida rapidamente, causando danos irreversíveis.

Ver o impacto da DPOC na vida dos pacientes nos motiva a lutar por métodos de diagnósticos e tratamentos mais eficazes e acessíveis. Quanto mais cedo a doença for descoberta, melhor será o seu controle e a redução da sua progressão.

Sem cura, mas com muito controle

A DPOC, de fato, não tem cura, mas tem controle. A boa notícia é que a medicina tem avançado muito no tratamento. Hoje, contamos com terapias capazes de melhorar significativamente a qualidade de vida, proporcionando alívio dos sintomas, reduzindo o risco e a frequência das crises e garantindo maior autonomia para quem tem a doença.

Com o acompanhamento médico regular e a adesão ao tratamento, é possível viver bem. Para quem fuma, o primeiro e mais importante passo é cessar o tabagismo. Isso interrompe a inflamação e a progressão dos danos aos pulmões.

Além disso, o tratamento inclui uma combinação de estratégias definidas de acordo com a fase da doença e das necessidades de cada paciente. O objetivo é desacelerar a progressão, reduzindo o risco de exacerbações, que marcam o curso de agravamento da DPOC e aumentam o risco de morte.

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Existem broncodilatadores potentes e de duração prolongada que ajudam a relaxar os músculos das vias aéreas, facilitando a passagem do ar e aliviando a falta de ar. Outros medicamentos podem ser adicionados conforme a necessidade, como corticoides inalatórios e até imunobiológicos.

Um programa personalizado de exercícios físicos também faz parte do tratamento e tem grande impacto na capacidade física e respiratória, diminuindo a falta de ar e aumentando a autonomia do paciente.

Para os casos mais avançados, onde há deficiência crônica de oxigênio no sangue, o uso de oxigênio suplementar pode ser essencial. Para os pacientes muito graves que não melhoram apesar das medidas anteriores, o transplante pulmonar é uma alternativa.

Avanços terapêuticos e acesso pelo SUS

Para os pacientes que enfrentam crises frequentes e têm formas mais graves da doença, temos as chamadas terapias triplas inalatórias em dispositivo único. Elas combinam três medicamentos – dois broncodilatadores e um corticoide – em um único inalador, tornando o tratamento mais simples e eficaz.

Essa inovação tem demonstrado resultados excelentes na redução das crises e na melhora da função pulmonar desse grupo de pacientes.

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As terapias triplas em dispositivo único foram aprovadas para inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS), no final de 2024. Nós, da comunidade médica, e os pacientes, aguardamos ansiosamente o início da sua dispensação. O protocolo de tratamento está em fase final de elaboração pelo Ministério da Saúde.

Isso representa um grande passo para que as terapias mais modernas e eficazes cheguem aos pacientes, de forma gratuita. O SUS, aliás, já oferece outros medicamentos para todos os estágios da DPOC.

Portanto, a mensagem final é de esperança e proatividade. A DPOC é uma doença séria, mas com atenção aos sinais e sintomas iniciais, diagnóstico precoce e o tratamento adequado, é possível gerenciar seus efeitos e ter uma vida plena.

A conscientização sobre a DPOC, sua prevenção e seu impacto é responsabilidade de todos nós. O conhecimento e a participação social são fundamentais para que a doença seja prevenida e evitada e que o direito de respirar bem seja uma realidade para todos. Respirar bem é viver bem.

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