Nos últimos anos, a medicina tem avançado significativamente na compreensão do lipedema, uma condição crônica, dolorosa e ainda pouco conhecida que afeta predominantemente mulheres.

Apesar de seu impacto físico e emocional, o diagnóstico ainda é frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, o que atrasa o início de um tratamento adequado. É uma doença inflamatória que compromete a qualidade de vida e o bem-estar das pacientes.

Estudo mostra relação entre dieta low carb e redução da dor

Recentemente, um estudo clínico publicado no periódico científico Obesity trouxe novas evidências sobre o papel da alimentação no controle da dor causada pelo lipedema.

A pesquisa, conduzida por cientistas da Norwegian University of Science and Technology e do St. Olavs Hospital, na Noruega, comparou o impacto de uma dieta low carb, ou seja, com baixo consumo de carboidratos e restrição calórica, com uma dieta controle tradicional.

Os resultados foram surpreendentes: as pacientes que seguiram a dieta low-carb relataram uma redução média de 1,1 ponto na escala de dor, que varia de 0 a 10 — o equivalente a cerca de 20% menos dor em relação ao início do estudo.

O dado mais interessante é que essa melhora ocorreu mesmo sem perda de peso significativa.

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Isso indica que o benefício da dieta não está apenas relacionado ao emagrecimento, mas à modulação de processos inflamatórios e metabólicos.

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No lipedema, há uma inflamação persistente no tecido adiposo, agravada pela resistência à insulina e pela disfunção linfática. Quando reduzimos o consumo de carboidratos, especialmente massas e pães brancos, diminuímos os níveis de insulina e de substâncias inflamatórias circulantes, o que pode aliviar a dor e reduzir o inchaço.

Esse mecanismo explica por que o corpo responde de forma tão positiva a ajustes alimentares, mesmo quando o peso corporal se mantém estável.

Dieta personalizada é essencial

Na minha prática clínica, observo que muitas pacientes com lipedema se beneficiam de abordagens nutricionais personalizadas. A dieta low-carb, quando bem orientada, pode contribuir para a melhora da dor, da disposição e até da autoestima.

É importante ressaltar que não se trata de uma dieta do “hype”, mas de uma estratégia com base científica e resultados já documentados. No entanto, sua adoção deve ser feita sob acompanhamento médico e nutricional, respeitando as particularidades metabólicas e o histórico de cada paciente.

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Abordagem integrada é fundamental

O tratamento do lipedema deve ser sempre multidisciplinar. Envolve cuidados médicos, de diversas especialidades. A alimentação tem papel central nesse processo, mas deve caminhar ao lado de outras medidas conservadoras, como por exemplo:

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  • Drenagem linfática;
  • Uso de meias de compressão;
  • Prática regular de atividade física;
  • Controle hormonal.

Cada uma dessas abordagens contribui para reduzir a inflamação e a dor, promovendo melhora global da qualidade de vida.

O estudo publicado na Obesity reforça a ideia de que o lipedema é uma doença inflamatória sistêmica. Isso muda a forma como olhamos para o problema e amplia as possibilidades de tratamento.

Quando compreendemos a doença sob uma perspectiva metabólica, percebemos que pequenas mudanças no estilo de vida, especialmente na alimentação, podem ter grande impacto na evolução dos sintomas.

Mais do que controlar o peso: restaurar o equilíbrio

Ainda são necessários mais estudos para compreender a fundo todos os mecanismos envolvidos, mas as evidências já disponíveis apontam para um caminho promissor.

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O fato de uma simples modificação alimentar reduzir de forma significativa a dor crônica é um avanço relevante. Esse tipo de achado traz esperança às mulheres que convivem com o lipedema no Brasil e em todo o mundo, e reforça a importância da educação alimentar como ferramenta terapêutica.

O cuidado com o lipedema precisa ir além do controle do peso. É sobre restaurar o equilíbrio do corpo, modular a inflamação e devolver à paciente sua qualidade de vida.

A dieta low-carb, dentro de uma abordagem médica correta e bem direcionada, representa mais uma possibilidade concreta de aliviar o sofrimento e oferecer bem-estar.

E isso, sem dúvida, é um passo importante para transformar a forma como tratamos essa condição tão complexa e que merece muito mais divulgação.

*Vitor Cervantes Gornati é cirurgião vascular e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV)

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