O artigo a seguir foi escrito por Natalie Haddad, dermatologista titulada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, com especialização em Tricologia pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Nos últimos anos, medicamentos injetáveis usados para perda de peso — como semaglutida (comercializada como Ozempic e Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro/Zepbound) — têm sido associados a relatos de queda de cabelo.
É importante esclarecer que, na maioria das evidências atuais, a queda geralmente não parece ser um efeito direto do fármaco sobre o cabelo, mas sim uma consequência indireta de perdas de peso rápidas, alterações nutricionais e estresse fisiológico.
Como ocorre a queda capilar após o emagrecimento?
O mecanismo provável dessa queda capilar é chamado eflúvio telógeno. Trata-se de um padrão de queda difusa desencadeado quando um estressor — seja cirúrgico, infeccioso, nutricional ou perda de peso súbita — leva muitos fios a entrarem, simultaneamente, na fase de queda (telógeno).
Quando a pessoa perde peso de forma rápida, como frequentemente ocorre com esses medicamentos, o organismo pode interpretar a mudança como um estresse, provocando queda temporária dos fios, algumas semanas ou meses depois.
Deficiências nutricionais, como de ferro, ferritina, proteína, vitamina D e zinco, também favorecem esse fenômeno.
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Resultados de estudos clínicos
Em estudos com Wegovy (semaglutida), a alopecia foi relatada em cerca de 3% dos adultos tratados, contra 1% no grupo placebo. Em adolescentes, os relatos também foram maiores no grupo tratado em comparação ao placebo. A chance de queda aumenta entre quem perde grande parte do peso (20% ou mais).
No caso da tirzepatida (Mounjaro/Zepbound), relatos de queda de cabelo variam conforme o estudo e a dose. Algumas análises apontam incidências entre 5% e 6% em usuários do medicamento, valores superiores aos observados nos placebos. Outros estudos sugerem que o risco aumenta de acordo com a magnitude da perda de peso.
Observações recentes indicam um possível aumento no risco de queda de cabelo associado ao uso de semaglutida em relação a outros tratamentos, embora esses dados ainda precisem de maior validação científica.
Ozempic, Wegovy e Mounjaro causam queda de cabelo diretamente?
A resposta é, em geral, negativa. A maior parte das evidências sugere que não há comprovação de que esses medicamentos danifiquem diretamente os folículos capilares.
A queda relatada está mais relacionada à rápida perda de peso, à ocorrência de vômitos e náuseas (que prejudicam a ingestão de nutrientes), ou a deficiências nutricionais provocadas pelas mudanças alimentares e pelo efeito anorexígeno dos medicamentos.
Apesar disso, como qualquer efeito adverso descrito em estudos, a queda de cabelo recebe destaque nos perfis de segurança e deve ser monitorada clinicamente.
Principais efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais comuns dessas medicações são gastrointestinais, como:
- Náusea;
- Vômito;
- Constipação;
- Diarreia.
Além disso, pode ocorrer hipoglicemia em pacientes que utilizam antidiabéticos concomitantes. Em alguns estudos, também há relatos de queda de cabelo, especialmente entre quem apresenta perda significativa de massa corporal. Agências regulatórias e fabricantes reconhecem a alopecia como um possível evento adverso em tratamentos de perda de peso.
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Como monitorar e minimizar riscos
- Avaliação antes e durante o tratamento: solicitar exames de sangue, como hemograma, ferritina, TSH, vitamina D, B12, perfil proteico e, quando necessário, zinco. Os exames devem ser repetidos em caso de queda significativa de cabelo;
- Monitorar a velocidade da perda de peso: estabelecer metas de perda sustentável e acompanhamento nutricional reduz o risco de eflúvio telógeno. Evite dietas extremamente restritivas em paralelo ao uso dos medicamentos;
- Suplementação quando indicada: corrigir deficiências, como de ferro, ferritina, vitamina D ou proteínas, sempre sob orientação médica. Não utilizar suplementos indiscriminadamente;
- Consulta com dermatologista: ao perceber queda difusa (mais fios na escova, no ralo do banho ou diminuição de volume), vale a pena checar se o padrão é telógeno ou outro tipo, orientando o tratamento adequado;
- Cuidados cosmetológicos: evitar danos mecânicos ou químicos enquanto os cabelos se recuperam, como o uso frequente de secador quente, tinturas agressivas e penteados muito apertados.
Conclusão
A queda de cabelo pode acometer uma minoria dos pacientes em uso de medicamentos para emagrecimento, especialmente quando a perda de peso é rápida ou muito acentuada.
Na maioria dos casos, o quadro é transitório, se as causas forem reconhecidas e tratadas. O acompanhamento integrado por médicos, nutricionistas e dermatologistas é essencial para identificar riscos e garantir um tratamento seguro no processo de emagrecimento.
*Natalie Haddad é dermatologista, e membro da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)