Talvez você já tenha presenciado esta cena: no escuro do cinema, em meio ao filme, uma pessoa pega o celular apenas para responder as mensagens ou checar as redes sociais. Os vizinhos de poltrona ficam incomodados ao serem distraídos da história passando na tela. Mas o que pode gerar uma ansiedade tão grande a ponto de levar alguém a quebrar as regras sociais só para verificar o telefone?
O FoMO, sigla para a expressão em inglês “Fear of Missing Out“, pode ser a explicação para esse fenômeno. Traduzido literalmente como “medo de ficar de fora“, esse comportamento não chega a ser considerado uma doença nem uma síndrome, mas cresceu em popularidade nas redes sociais.
Diversas pessoas se identificam com o sentimento de apreensão diante da possibilidade de não saber de algo interessante, perder a oportunidade de participar de uma atividade legal ou ficar por fora de um acontecimento importante.
A condição ainda está sendo pesquisada pela ciência e não consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), registro de critérios diagnósticos de condições psíquicas e emocionais. Um estudo recente sugere que o FoMO é uma sensação ou emoção independente, que pode ser precursora de outros comportamentos e acompanhar problemas psicológicos.
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Como funciona o FoMO?
Pesquisadores começaram a definir o FoMO no início do século 21, em artigos que atribuíam o termo a indivíduos com grande ansiedade diante da possibilidade de perder experiências prazerosas que outras pessoas estavam vivenciando.
Embora o problema já existisse antes da dependência digital se intensificar, o acesso à internet e às redes sociais aumentaram a velocidade com que podemos receber informações, conversar, consumir produtos e criar vínculos. Com tantas interações sociais mediadas por aparelhos como computadores, tablets e celulares, surge a ilusão de que é possível – e necessário – estar em todos os lugares e não perder nenhum acontecimento.
No “medo de ficar de fora”, quem não participa de alguma atividade sente uma enorme aflição de ficar tão desatualizado e obsoleto quanto aquele celular antigo que você esqueceu em uma gaveta. A sensação seria desencadeada por ferramentas sociais que adquirimos naturalmente, ao aprender sobre como formar relações.
Esse tipo de mecanismo mental serve para verificar possíveis ameaças às relações sociais, tentando monitorar se alguém vai nos excluir ou rejeitar. O FoMO ativa esse “caminho psíquico” que causa a ideia de que os vínculos com outros indivíduos estão enfraquecendo.
Se você conhece – ou mesmo é – o tipo de pessoa que frequenta todas as festas e encontros entre amigos, mesmo quando não está com vontade de sair de casa, só pelo temor de perder a estima alheia, pode estar diante de um caso de FOMO.
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FoMO e outros sintomas
Quem convive com um diagnóstico de depressão ou ansiedade está mais propenso a desenvolver os comportamentos do FoMO. Quanto maior for o medo de ficar de fora, maior será a dependência do uso de mídias sociais e similares como forma de aliviar a aflição.
O problema é que o uso constante de espaços virtuais também pode desencadear sintomas depressivos, gerando um círculo vicioso no se dedica ainda mais tempo online para tentar remediar sensações ruins.
O FOMO também pode desencadear comportamentos de insegurança, relacionados à crença de que é preciso se esforçar e competir por um lugar no mundo social. Essa conduta costuma aparecer acompanhada de sentimentos de inadequação e irritabilidade.
Outra expressão que surgiu na esteira do FoMO é o FoBO: o “medo de opções melhores“, em uma tradução literal de “fear of better options” – situação em que a pessoa paralisa frente a uma decisão por conta do receio de estar desconsiderando uma alternativa melhor.
O comportamento chamado de phubbing é mais uma característica de quem se enquadra no FoMO. A gíria vem da junção das palavras inglesas “phone” (telefone) e “snubbing” (esnobar). Paradoxalmente, quem tem medo de ficar de fora pode acabar desenvolvendo o hábito de ignorar quem ou o que está ao seu redor para usar o celular.
Dicas para combater o FoMO
Já que o FoMO não é considerado como doença ou distúrbio, não há um tratamento específico para o problema. No entanto, diante dos sintomas de ansiedade, depressão e inadequação social que acompanham a questão, é indicado buscar atendimento psicológico ou psiquiátrico.
Além da ajuda profissional, existem estratégias que podem ser adotadas de forma individual para atenuar o quadro:
• Configurar as notificações no celular para receber apenas o que for essencial, evitando excessos.
• Procurar aplicativos para monitorar o tempo de tela e o tempo gasto na internet, estabelecendo um limite de uso diário.
• Reservar um momento específico do dia para verificar todas as redes sociais, ao invés de usar o celular repetidamente. Um bom contexto pode ser o transporte para o trabalho ou em uma pausa de lazer. Definitivamente, qualquer horário é melhor do que os momentos logo antes de dormir.
• Dedicar-se a atividades que ajudem a tirar o foco da internet. Dê preferência para aquelas nas quais você pode fazer algo do início ao fim, sem interrupções. Vale ir passear, conversar com amigos, praticar esportes ou até se dedicar a coisas corriqueiras, como lavar a louça e cozinhar.
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