Um novo contraceptivo oral combinado (COC), a famosa pílula anticoncepcional, chegou às farmácias brasileiras em março e promete causar menos efeitos adversos do que outros medicamentos da mesma classe já disponíveis no país.
Comercializado pela farmacêutica Libbs, o Nextela reúne a drospirenona (um progestagênio) e o estetrol (um estrogênio). Este segundo componente é a grande novidade que chega ao mercado.
O estetrol (também conhecido pela sigla E4) é o hormônio com ação estrogênica que tem menos efeitos adversos associados ao seu uso — incluindo menor ganho de peso e menos risco de trombose. Isso o torna uma opção bastante segura para ser utilizada em pílulas combinadas.
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O Nextela é primeira opção contraceptiva com estetrol a chegar no Brasil. Foi aprovado pela Anvisa em 2023, mas só agora pode ser encontrado nas farmácias. A caixa com 28 comprimentos é comercializada a partir de R$ 112.
Ao redor do mundo, ele está liberado em mais de 40 países da Europa, da Ásia e das Américas. Só no Velho Continente, mais de 380 mil mulheres já utilizaram o medicamento desde sua aprovação em 2021.
A seguir, entenda seu mecanismo de ação e saiba quais são as suas principais vantagens e contraindicações.
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Como o Nextela funciona?
O Nextela é um contraceptivo oral combinado (COC), ou seja, é um medicamento que inibe a ovulação a partir da ação de dois componentes: um progestagênio e um estrogênio.
Os progestagênios são os principais hormônios responsáveis pelo efeito contraceptivo: de ação semelhante à progesterona produzida naturalmente no organismo, eles bloqueiam a produção dos óvulos. Além disso, também atuam em outras tarefas para impedir que a mulher engravide, como no afinamento do endométrio e no espessamento do muco cervical.
No Nextela, o progestagênio utilizado é a drospirenona, presente também em outras pílulas anticoncepcionais.
Já os estrogênios são agregados às pílulas para reforçar o bloqueio da ovulação, inibir também a produção de outro hormônio feminino (chamado FSH) e dar maior estabilidade ao tecido endometrial (camada do útero que é expelida na menstruação).
O estrogênio usado no novo medicamento é o estetrol. Ele é um dos quatro produzidos pelo corpo humano e suas particularidades conferem a ele algumas vantagens sobre os demais hormônios naturais (a estrona, o estradiol e o estriol).
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Como age o estetrol?
Assim como os outros estrogênios, o E4 age ativando células de outras partes do corpo, em geral, com efeito protetor sobre cérebro, sistema cardiovascular, endométrio, vagina e ossos.
Porém, diferente dos outros membros da categoria, ele também bloqueia receptores de tecidos da mama e do fígado, isto é, tem pouca interação com eles, reduzindo a proliferação de células mamárias e promovendo um impacto hepático mínimo.
Por isso, o estetrol é considerado o primeiro estrogênio nativo com ação seletiva nos tecidos (Nest). Traduzindo: é um hormônio produzido pelo nosso próprio corpo que não interage com qualquer sistema dele, somente com alguns.
“Ele tem baixo impacto na proliferação do tecido mamário, causando menor dor nos seios, sintoma chamado de mastalgia”, afirma Juliana Dinéia Perez Brandão, bióloga, doutora em Ciências e coordenadora de relacionamento científico da Libbs.
“Além disso, estudos realizados com células mamárias saudáveis e cancerígenas estão avaliando a possibilidade de utilizar o estetrol no tratamento do câncer de mama“, completa.
Em relação à interação com o fígado, o estetrol é uma molécula bem absorvida pelo organismo. Estima-se que aproximadamente 70% das moléculas dos hormônios são aproveitadas pelos tecidos com os quais o hormônio interage.
Em comparação, o estradiol, outro estrogênio natural utilizado em COCs, tem uma absorção de apenas 5%, e o etinilestradiol, estrogênio sintético, de 40 a 45%.
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Como o estetrol é produzido?
O E4 é produzido por seres humanos, outros primatas e algumas plantas, como a soja. “O estetrol utilizado pela indústria farmacêutica é proveniente de fontes vegetais das quais ele possa ser extraído”, elucida Maria Celeste Osório Wender, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Apesar de ser uma fonte diferente, ele é idêntico ao que é produzido por humanos durante a gestação”.
Na nossa espécie, o estetrol é um estrogênio fetal, ou seja, ele é produzido no fígado humano quando ainda estamos na barriga da nossa mãe.
Seu papel na gestação ainda intriga os cientistas, mas eles acreditam que o hormônio tenha um papel importante de neuroproteção, formação óssea e imunológica.
Menor impacto no peso e na libido
Para mulheres adultas, o uso do medicamento à base de estetrol e drospirenona está ligado a menores efeitos sobre o peso e a libido, de acordo com estudos clínicos realizados principalmente com a população europeia.
Segundo estudo publicado em 2017 no The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care, após três meses de uso do Nextela, cerca de 12% das mulheres ganharam 2 quilos ou mais e 31% perdeu a mesma medida.
Depois de seis meses, aproximadamente 20% das voluntárias haviam ganhado peso, enquanto 37% relataram perda. Foi uma das melhores taxas entre as quatro combinações de estrogênio e progestagênio estudadas.
O medicamento também tem baixo impacto na libido. Em pesquisa divulgada em 2022, na revista Contraception, das mais de 3,4 mil voluntárias, apenas 1,5% relatou diminuição do desejo sexual.
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Menor risco de trombose
Outra vantagem do uso de estetrol em comparação a de outros estrogênios disponíveis no mercado é que, em estudos clínicos, ele demonstrou ter um menor risco de tromboembolismo venoso (TEV) entre as usuárias.
Como referência, a incidência de trombose entre mulheres que não estão grávidas e não tomam pílula é de 1 a 5 a cada 10 mil mulheres por ano. Já entre quem toma anticoncepcional, é de 5 a 12 a cada 10 mil mulheres por ano.
No mesmo estudo publicado na Contraception, que avaliou 3,4 mil mulheres de 16 a 50 anos, apenas um caso de trombose foi relatado ao longo de 12 meses. Isso aproxima a incidência de TEV entre usuárias do Nextela à taxa observada na população geral.
Estudos clínicos de fase 4 — aqueles conduzidos depois da aprovação do medicamento, para avaliar seu impacto na vida real — estão sendo realizados inclusive com centros de pesquisa brasileiros.
Segundo pesquisadores, essa diminuição do risco comparada a outros COC se deve ao fato do estetrol ter um baixo impacto no fígado.
“A atuação de estrogênios sobre o fígado estimula a produção de fatores de coagulação. Este não é o caso do estetrol, que tem um efeito hepático realmente mínimo”, explica Jean-Michel Foidart, ginecologista belga que estuda o hormônio desde os anos 1960 e foi essencial para o desenvolvimento do novo medicamento.
O Nextela apresentou a menor taxa de aumento nos indicadores de trombose venosa comparada a outras pílulas combinadas em outro estudo publicado na revista Contraception, em 2021.
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Contraindicações
Assim como outras pílulas anticoncepcionais combinadas, o Nextela não deve ser usado enquanto a mulher estiver amamentando ou por aquelas que:
- tem histórico ou risco de tromboembolismo venoso;
- tem histórico ou risco de tromboembolismo arterial (infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral),
- presença ou histórico de doença hepática grave e tumores no fígado;
- insuficiência renal;
- cânceres influenciados por hormônios sexuais (como alguns tipos de câncer de mama);
- sangramento vaginal não diagnosticado;
- alergia aos componentes.
Consulte um médico para escolher a opção contraceptiva mais adequada para você.
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