
Ler Resumo
Uma picada que começa com coceira e vermelhidão pode, em alguns casos, esconder riscos bem maiores. No Brasil, mosquitos, carrapatos, barbeiros, abelhas e até alguns tipos de aranhas e lagartas estão associados à transmissão de doenças, reações alérgicas graves e acidentes potencialmente fatais.
Em um país de clima tropical e alta biodiversidade, os acidentes com insetos e outros animais peçonhentos fáceis de confundir com eles são um desafio para a saúde pública. Mas saber como agir após uma picada e como diferenciá-las é o segredo para evitar complicações.
Os insetos que representam perigo
Do ponto de vista da saúde pública no Brasil, no time dos animais peçonhentos — que produzem veneno e podem injetá-lo ativamente quando se sentem ameaçados — considerados de importância médica estão algumas serpentes, aranhas, escorpiões e insetos. Neste último grupo, na lista do Ministério da Saúde, estão as abelhas do gênero Apis e lagartas do gênero Lonomia.
No entanto, outros animais peçonhentos, como vespas, marimbondos e lacraias, embora não sejam considerados de importância em saúde pública, podem ocasionar acidentes graves e entram para as notificações do Ministério.
Além disso, mesmo aqueles que não têm exatamente venenos perigosos, ainda oferecem riscos, já que podem transmitir doenças.
É o caso de alguns mosquitos. Nessa categoria, temos o famoso Aedes aegypti, principal transmissor de dengue, zika e chikungunya no Brasil. Também há o maruim (Culicoides), transmissor da febre do Oropouche, e o mosquito do gênero Haemagogus, associado à febre amarela.
É importante mencionar também o barbeiro (Triatoma infestans), inseto que se alimenta de sangue, conhecido por transmitir a Doença de Chagas ao defecar perto da sua picada, depositando o parasita Trypanosoma cruzi.
E não se esqueça dos piolhos. No Brasil, esses insetos costumam causar principalmente irritação e coceira. Em outros países, como na Europa, espécies podem transmitir doenças mais sérias, como o tifo exantemático, infecção bacteriana grave.
A lista é realmente grande. De acordo com a Sociedade Brasileira de Entomologia, o Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil soma mais de 91.500 espécies de insetos. Isso representaria 72% dos animais que habitam o país.
“Eles são os principais grupos de animais e que podem produzir doenças nos humanos. É uma atenção médica imediata”, diz o infectologista Kléber Luz, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
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Picada de inseto: o que fazer?
Como explica Kléber, a maioria das picadas de insetos — como mosquitos, borrachudos, formigas e percevejos — provoca apenas reações locais leves, como vermelhidão, coceira e inchaço. Ainda assim, há outras que oferecem riscos e alguns cuidados imediatos fazem toda a diferença para aliviar os sintomas e evitar complicações. Confira:
1. Lave o local com água e sabão
Essa é a primeira e mais importante medida. A limpeza reduz o risco de infecção e remove resíduos deixados pelo inseto.
2. Evite coçar
Coçar pode piorar a inflamação e facilitar a entrada de bactérias, levando a infecções secundárias.
3. Faça compressa fria
Aplicar gelo ou compressa fria por 10 a 15 minutos ajuda a diminuir o inchaço, a dor e a coceira, pois reduz a inflamação local. No caso de picadas de escorpião e aranhas (que, lembrando, não são insetos), recomenda-se o uso de compressas mornas.
4. Evite produtos químicos
Assim como nos outros acidentes, não é recomendável colocar nenhum produto químico ou orgânico sobre a queimadura, como café, folhas, pasta de dente, gasolina, etc.
5. Remoção de ferrões
Picadas de abelhas requerem cuidados adicionais quanto ao ferrão, já que elas costumam deixá-lo na pele. Em caso de acidentes com exames, a retirada dos ferrões deve ser feita por raspagem com lâminas e não pelo pinçamento de cada um deles. A compressão pode espremer a glândula ligada ao ferrão e liberar mais veneno.
6. Tente identificar o animal
Se não for atrasar o atendimento, tente reconhecer o animal envolvido no acidente. A identificação — por foto ou descrição — ajuda a equipe médica a diferenciar espécies peçonhentas e escolher o soro adequado. Se ele estiver morto, pode ser coletado e levado ao hospital. Mas o recomendado é não interagir com ele.
7. O que não fazer
Não faça torniquete ou garrote. Não fure, corte, queime, esprema ou faça sucção no local, nem aplique folhas, pó de café ou terra, pois isso aumenta o risco de infecção. Em picadas nos braços, mãos, pernas ou pés, retire anéis, pulseiras e calçados apertados para evitar piora do inchaço.
8. Suspeita de insetos transmissores de doenças
Se a picada for de mosquito em área com circulação de dengue, zika ou chikungunya, e surgirem sintomas como febre, dor no corpo ou manchas na pele, é fundamental buscar avaliação médica.
Quando há risco de envenenamento
Alguns animais peçonhentos que “picam” — embora nem todos sejam insetos — podem causar quadros graves. Nesses casos, é importante considerar o que fazer para cada um:
Abelhas e marimbondos
Podem causar desde dor intensa e inchaço local até reações alérgicas graves (anafilaxia), com risco de morte. Ataques por enxames são ainda mais perigosos, pois a grande quantidade de veneno pode levar à falência renal.
Remova o ferrão imediatamente, como visto, raspando a área afetada de forma suave. Isso pode ser feito com objetos como cartão de crédito ou faca de manteiga. Outra dica é elevar a área do corpo para reduzir inchaço. Busque atendimento imediato em caso de sintomas alérgicos.
Lagartas
Lagartas são insetos que podem exigir atenção. Se forem peludas, tocá-las pode causar dor local, ardor e vermelhidão. Lave o local, faça compressa fria e procure atendimento se a dor for intensa (para aliviar o quadro).
Já as que possuem espinhos merecem mais cuidado, pois podem ser Lonomias, as mais perigosas. Além da dor e queimação, as lagartas espinhudas podem causar sangramentos e manchas arroxeadas na pele. Lave o local, não manipule o animal, tente fotografá-lo e procure imediatamente um pronto atendimento.
Aranhas
Muitas vezes, as picadas de aranhas, que são aracnídeos, são confundidas com as de insetos. Para entendê-las, vale saber que somente três gêneros são considerados de importância médica no Brasil: a viúva-negra, a armadeirae a aranha-marrom. Entenda as diferenças entre elas:
- Armadeira: causa dor imediata, inchaço e suor local; sinais graves incluem vômitos, dificuldade respiratória e espasmos, exigindo hospitalização e soro;
- Aranha-marrom: a picada quase não dói no início, mas após horas pode causar manchas, bolhas e necrose da pele. A lesão pode ficar pálida, arroxeada e evoluir para necrose. Avaliação médica é necessária;
- Viúva-negra: menos comum, provoca ardência local e dores musculares intensas, que podem se espalhar pelo corpo, sendo tratada com analgésicos. Também precisam de atendimento imediato.
Picada com dois furos é sempre de aranha?
Picadas das aranhas podem deixar dois pequenos furos na pele, mas isso nem sempre acontece. Por isso, a presença de dois pontinhos não é um critério confiável.
Lacraias
Não são insetos, embora também sejam artrópodes. As picadas causam dor forte e inchaço local. Mas o veneno é pouco tóxico e não há registros de mortes no Brasil. Em lacraias grandes, pode haver febre e suor. Mantenha o local limpo, não use álcool e procure orientação médica se necessário.
Picadas que podem transmitir doenças
Algumas picadas quase não doem, mas exigem vigilância. Saiba como identificar algumas espécies que podem transmitir doenças. Um médico deve ser consultado o quanto antes em caso de:
Barbeiro: para saber se foi picado por um barbeiro, observe sinais locais como um caroço vermelho, inchado e endurecido (chagoma) ou inchaço indolor na pálpebra (Sinal de Romaña) no local de uma picada, além de sintomas gerais como febre, dor de cabeça, fraqueza e mal-estar.
Aedes aegypti: a beliscada do “mosquito da dengue” é silenciosa. Não coça e logo desaparece, pois sua saliva contém anestésicos. Por isso, a falta de sintomas é que é um sinal de alerta. Além disso, considere que o Aedes é preto com listras brancas, voa silencioso e ataca de dia (manhã/tarde), ao contrário do pernilongo/muriçoca, que é barulhento e noturno.
Carrapato-estrela: Embora seja aracnídeo, é preciso atenção para não confundir sua picada com a de um inseto comum. Quem é afetado deve procurar um médico para acompanhamento, já que eles podem causar febre maculosa.
Os sinais de que uma picada foi causada por carrapato incluem: área vermelha ao redor da picada, erupção cutânea e sensação de mal-estar geral (dores musculares, dor de cabeça, febre, fraqueza).
Sinais de alerta
Procure atendimento médico imediatamente se houver: inchaço intenso, especialmente no rosto ou pescoço; dificuldade para respirar; dor muito forte ou piora progressiva da lesão.
Além disso, é preciso ter atenção ao escurecimento da pele no local da picada; sintomas gerais, como febre ou mal-estar após a picada, além de tontura, inchaço nos lábios ou pálpebras (sinais de reação alérgica grave).
Esses sinais podem indicar, além de envenenamento, sinais de uma anafilaxia (uma reação alérgica potencialmente fatal, na qual sua pressão arterial cai e você não consegue respirar).
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