Como é a sua relação com a comida? Há quem coma para lidar com o estresse, quem perca o controle do quanto ingere e até quem pule refeições e passe horas de jejum. E saber diferenciar cada um desses perfis faz toda a diferença no tratamento da obesidade.

É o que defendem médicos brasileiros que traduziram para o português brasileiro uma escala usada internacionalmente para identificar perfis de comportamento alimentar e, a partir, disso, traçar melhores estratégias para controle do peso.

Trata-se da Escala de Fenótipos do Comportamento Alimentar (EFCA), criada pelas profissionais de saúde argentinas Monica Katz e Vanesa Anger. A classificação cataloga a fome em cinco tipos: hiperfágico, desorganizado, compulsivo, hedônico e emocional.

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A ferramenta consiste em uma série de frases com as quais o paciente deve concordar ou não. O médico, o nutricionista ou o psicólogo que acompanha o indivíduo faz uma análise a partir das afirmações selecionadas e, assim, pode dar orientações mais assertivas para lidar com hábitos alimentares.

“O ideal é que a Escala de Fenótipos do Comportamento Alimentar (EFCA) integre a anamnese médica e nutricional, com apoio psicológico nos casos de compulsão ou descontrole emocional“, explica Ronaldo Pineda Wieselberg, endocrinologista que coordenou a tradução brasileira.

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A ideia é que a escala seja utilizada de forma multiprofissional. “O endocrinologista relaciona os fenótipos a aspectos hormonais, metabólicos e farmacológicos, orientando possíveis terapias. O nutricionista identifica padrões alimentares e propõe estratégias de reeducação específicas. Já o psicólogo investiga gatilhos emocionais, distorções cognitivas e mecanismos de recompensa”, detalha Wieselberg, também presidente da ADJ Diabetes Brasil.

A EFCA foi validada por pesquisadores brasileiros e argentinos em estudo apresentado no Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica e publicada no periódico Archives of Endocrinology and Metabolism. No total, 206 voluntários testaram a versão brasileira da escala, que foi sutilmente adaptada para os padrões da nossa cultura.

“Uma das perguntas da escala menciona ‘sempre limpar o prato’, algo que, no Brasil, tem forte peso cultural — muitos cresceram ouvindo que ‘é pecado jogar comida fora’”, pontua o médico. “Esse detalhe precisou de atenção especial no processo de adaptação.”

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Descubra qual é o seu tipo de fome

Baseando-se nas afirmações com as quais o indivíduo concorda ou não, o profissional da saúde calcula uma pontuação que identifica qual é o fenótipo de comportamento alimentar predominante.

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“Os fenótipos do comportamento alimentar são padrões observáveis da relação de uma pessoa com a comida — e refletem diferenças nos mecanismos neurobiológicos e emocionais que influenciam o comer“, define Wieselberg. “A clínica atual busca entender por que o paciente come — e não apenas quanto come.”

Confira a seguir às frases que compõem a escala e veja com quais você mais se identifica:

  1. Eu como até ficar muito cheio.
  2. Acalmo as minhas emoções com comida.
  3. Peço mais comida quando termino meu prato.
  4. Tenho o hábito de petiscar (petiscar = fazer pequenas refeições entre as refeições principais – café da manhã, almoço, café da tarde e jantar – sem medir a quantidade do que se come).
  5. Quando começo a comer algo que gosto muito, tenho dificuldade em parar.
  6. Costumo comer mais de um prato nas refeições principais.
  7. Lanches entre as refeições devido à ansiedade, tédio, solidão, medo, raiva, tristeza e/ou cansaço.
  8. Sinto-me tentado a comer quando vejo/cheiro comida que gosto e/ou quando passo por um quiosque, uma padaria, uma pizzaria ou um estabelecimento de fast food.
  9. Tomo café da manhã todos os dias.
  10. Como nos momentos em que estou: entediado, ansioso, nervoso, triste, cansado, irritado e solitário.
  11. Pulo algumas – ou pelo menos uma – das refeições principais (café da manhã, almoço, café da tarde ou jantar).
  12. Quando me deparo com uma comida que gosto muito, mesmo sem sentir fome, acabo comendo.
  13. Como muita comida em pouco tempo.
  14. Quando como algo que gosto, finalizo toda a porção.
  15. Quando como algo que gosto muito, como muito rápido.
  16. Passo mais de 5 horas por dia sem comer.

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Resultados

A seguir, entenda quais são os cinco “tipos de fome” avaliados pela nova escala:

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O primeiro perfil é o hiperfágico. “Ele diz respeito àquela pessoa que come em grande quantidade, o que sugere uma redução dos sistemas de saciedade do indivíduo”, explica Wieselberg. As afirmações 1, 3 e 6 estão bastante associadas a esse tipo.

Você também pode ter o fenótipo desorganizado. “É aquela pessoa que pode passar muitas horas sem comer e, ao parar para se alimentar, come em quantidade maior de forma compensatória, pela própria falta de rotina alimentar”, descreve. Segundo o pesquisador, este é um perfil bastante comum em profissionais de saúde. As frases 9 e 11 tem muito a ver com essa desorganização.

Outros se encaixam no perfil compulsivo. “Este fenótipo não é necessariamente identificado em pessoas com transtorno de compulsão alimentar, que é uma outra condição clínica e com tratamento específico”, esclarece o endocrinologista. “Esse perfil indica pessoas que não conseguem limitar os impulsos alimentares – por exemplo, pessoas que beliscam alimentos com frequência.” As afirmações que melhor resumem esse perfil são as 13 e 15.

Além disso, há quem se identifique com o fenótipo hedônico. “Indica pessoas que têm prazer em se alimentar, buscando a sensação da recompensa, muitas vezes com alimentos hiperpalatáveis”, define o médico. A frase 14 espelha esse perfil.

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Por último, há o perfil emocional. “Ele indica pessoas que comem em resposta ao estresse, à tristeza, à ansiedade. Para muitos desses indivíduos, a comida é vista como uma válvula de escape para as emoções”, conclui Wieselberg. As frases 2, 7 e 10 têm tudo a ver com isso.

 

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