Você já parou para pensar em como se sente após um bom tempo publicando e checando o feed das redes sociais?

O uso frequente desses espaços pode até trazer uma certa dose de prazer, associada principalmente à liberação de dopamina no cérebro. Contudo, ficar o tempo todo conectado pode acabar nos deixando mais irritados. 

É o que sugere um amplo estudo realizado nos Estados Unidos, publicado na revista JAMA Network Open. A pesquisa, que analisou o uso de plataformas como Instagram, Twitter/X, Facebook e TikTok, contou com a participação de mais de 40 mil pessoas.

Os voluntários foram questionados inicialmente se participavam das mídias mencionadas acima. Em seguida, responderam também sobre as frequências tanto de utilização quanto de publicação nas redes.

Os efeitos no humor foram observados a partir de uma metodologia específica para estimar a irritabilidade, validada por uma pontuação que varia entre 5 e 30, sendo os escores mais altos indicadores de maior incômodo. Os especialistas mensuraram ainda sintomas depressivos e de ansiedade.

Ao todo, 78,2% dos entrevistados relataram acesso diário de pelo menos uma plataforma, sendo que quase 25% afirmaram usar a maior parte do dia. Sobre a assiduidade na postagem, 16,2% disseram publicar conteúdos também várias vezes ao dia.

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Quanto mais tempo online, maior era a irritabilidade demonstrada, principalmente entre usuários do X e do Facebook e entre quem fazia várias postagens ao dia, em vez de apenas observar. Considerando a escala da irritabilidade, a diferença entre quem não participava das redes e os usuários frequentes era de mais de 3 pontos.

Os autores destacam que, quando a irritabilidade ocorre de forma concomitante à depressão, pode estar associada a maior impacto funcional e probabilidade de pensamentos e comportamentos suicidas.

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Por que ficamos irritados?

Em parte, o problema pode estar vinculado a publicações criadas especificamente para estimular a raiva, um dos artifícios mais eficazes em promover o engajamento na internet. Popularmente chamados de “bait“, isca em inglês, esses conteúdos “fisgam” os indivíduos justamente pela narrativa do absurdo.

“Existe uma certa lógica nas redes sociais de dar opiniões polêmicas para causar revolta em um determinado público e, com isso, estimular esse determinado grupo a responder, xingar, mandar mensagem ou compartilhar reclamando”, afirma o psicólogo Maycon Torres, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Outro fenômeno complexo da participação nessas plataformas envolve diferenças entre a interação cara a cara e a virtual.

“O diálogo presencial acontece a partir de alguns filtros. Quando conversamos com alguém, não falamos exatamente tudo o que pensamos. É uma forma de modular a nossa comunicação. Nas mídias sociais, as pessoas exercem um comportamento compulsivo para expressar ideias de uma maneira que elas não fariam em outro contexto”, pontua Torres.

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O psicólogo destaca ainda que a irritabilidade é uma emoção relacionada com a impulsividade. Nesse contexto, são mais vulneráveis a apresentar reações negativas pessoas que já são mais impulsivas.

“Quando as pessoas estão irritadas, por exemplo, elas tendem a querer expressar esse incômodo e a falar mais. No caso, acabam mandando mais mensagens ou fazendo posts nas redes sociais”, resume.

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“Indivíduos que têm uma necessidade de validação a partir do outro, inseguras ou com maior dependência emocional acabam também aderindo mais às redes sociais e estão em maior risco para ter uma resposta emocional que gera sofrimento ou incômodo”, acrescenta.

Como blindar a mente

Uma das maneiras de blindar a mente é reduzir o tempo de permanência nos aplicativos. “Um caminho fundamental é desativar as notificações das redes no celular, dessa forma você fica menos tentado a abrir a mensagem e, com isso, deixa de engajar em algum tipo de conversa ou de comentário”, sugere o psicólogo.

Outra estratégia é mover o ícone da tela do celular para alguma pasta ou espaço mais escondido, de modo a gerar uma certa dificuldade para acessá-lo. Atualmente, os apps também oferecem tempo de limite de uso diário, o que contribui para reduzir excessos.

“Também é importante a pessoa tentar lidar com o pensamento e a emoção antes de transformar isso em um comportamento, como dar vazão à raiva em publicações online”, conclui.

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