Aplicar inseticidas, remover a água parada, conferir locais onde o mosquito pode se proliferar: todas essas são maneiras de combater a dengue. Mas o cientista Luciano Moreira descobriu outra forma de barrar a transmissão da doença, usando os próprios mosquitos Aedes aegypti.

A descoberta e sua eficácia renderam uma menção na recém-divulgada lista de 10 cientistas mais influentes de 2025 na revista Nature. 

Chamada de “método Wolbachia”, a técnica usa as bactérias de mesmo nome. O engenheiro agrônomo e entomologista estuda essas bactérias há mais de uma década. Em um artigo de 2009, ele já demonstrava como mosquitos infectados pela Wolbachia têm menos chances de contrair dengue e, portanto, de transmiti-la para os humanos. 

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Como o método funciona?

A técnica desenvolvida por Moreira não mata os mosquitos, mas faz com que os insetos circulem sem transmitir doenças como a dengue, a zika e o chikungunya para humanos. Uma vez que são liberados no ambiente, os mosquitos se reproduzem já com a bactéria.  

Assim, novas gerações de mosquitos já nascem infectados e, portanto, incapazes de passar os vírus adiante. A ciência sabe o efeito, mas ainda não entende exatamente por que ele ocorre. 

Presente em várias espécies de insetos, a Wolbachia pode ajudar o mosquito a produzir proteínas antivirais, que combatem os vírus – essa é uma das hipóteses. A bactéria também pode competir com o vírus por recursos. Por enquanto, os cientistas não sabem qual dessas vias garante a proteção do mosquito – e, por consequência, da população. Mas a estratégia funciona. 

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O recurso mostrou o mesmo efeito com outros vírus. Isso significa que, ao infectar o Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, diminuem as chances do inseto contrair – e transmitir – os vírus da dengue, do zika e do chikungunya.

Um estudo publicado na revista The Lancet neste ano apontou para uma redução média de 63% dos casos de dengue nas regiões onde o mosquito infectado com a Wolbachia estava presente.

Quem é Luciano Moreira 

Em julho, Luciano Moreira inaugurou a Wolbito do Brasil, a maior biofábrica do mundo de Aedes aegypti infectados com Wolbachia. A fábrica tem a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o World Mosquito Program.

O pesquisador já estudava controle biológico de pragas na graduação. Depois do doutorado, ele desenvolveu uma pesquisa de pós-doutorado nos Estados Humanos, e começou a investigar como bloquear a transmissão da malária usando os mosquitos.

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Em 2008, fez outro pós-doutorado na Austrália, no laboratório do entomologista Scott O’Neill na Universidade de Melbourne. Lá, eles já pesquisavam a possibilidade de infectar o Aedes aegypti com a Wolbachia

De volta ao Brasil, Moreira foi trabalhar na Fiocruz e começou a testar o método, de forma manual. Conseguiu resultados positivos, que convenceram políticos a implementar o projeto: em Niterói, a incidência de dengue reduziu em 89% depois que os mosquitos com a bactéria foram introduzidos na cidade. 

Hoje, a fábrica produz milhões de ovos do mosquito infectado por semana. Quando se desenvolvem, os mosquitos são soltos nas cidades. 

O método é reconhecido pelo governo federal como uma medida de saúde pública para combater a dengue. O Ministério da Saúde está ampliando o uso dos “wolbitos” em mais cidades.

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