
Ler Resumo
Os testes neuropsicológicos são importantes ferramentas clínicas na avaliação de quadros como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA) e distúrbios neuropsicológicos associados ao envelhecimento, entre outros.
Eles servem para investigar diferentes aspectos do funcionamento cognitivo, como inteligência geral, memória, atenção, funções executivas e de planejamento, linguagem, habilidades visoespaciais etc., além de incluir escalas relacionadas ao humor e à personalidade.
Contudo, como explica Ana Lúcia Karasin, neuropsicóloga do Einstein, esses testes são parte da avaliação neuropsicológica e não oráculos capazes de, isoladamente, apontar diagnósticos.
Seus resultados precisam ser considerados no contexto de um conjunto mais amplo de informações obtidas na conversa com o paciente (anamnese), na observação direta do indivíduo, no seu histórico pessoal e familiar e, quando necessário, envolvendo o levantamento de dados com pessoas do entorno, como parentes, professores (no caso de demandas associadas ao comportamento da criança na escola) e cuidadores.
Assim, responder a testes disponíveis gratuitamente na internet para um autodiagnóstico não é uma boa opção.
Quando a avaliação neuropsicológica é indicada
Nem todos precisam de avaliação neuropsicológica. O ideal é que ela seja indicada pelo médico do paciente – como o pediatra, o geriatra ou o neurologista – e realizada por um neuropsicólogo, profissional especializado que saberá aplicar os testes mais indicados para cada caso e relacionar os resultados com as demais informações sobre o paciente.
Entram na lista de fatores individuais histórico, estilo de vida, comportamentos e ambiente sociocultural, entre outros pontos. Ou seja, o mesmo resultado de um teste pode ter significados diferentes de um indivíduo para outro, o que afasta qualquer ideia de teste automatizado fornecido por aplicativos, sites ou páginas de revistas.
+Leia também: A redescoberta do autismo
Aplicações clínicas ao longo da vida
A utilidade da avaliação neuropsicológica é ampla, mas destaca-se em algumas áreas da medicina. Na psiquiatria geriátrica, por exemplo, contribui para diferenciar o envelhecimento natural de quadros demenciais, como a doença de Alzheimer ou a demência frontotemporal.
Na infância e adolescência, ajuda a identificar transtornos de aprendizagem, dificuldades de atenção, comportamentos desafiadores e o próprio TEA, permitindo também apontar o que não é transtorno, mas apenas traço de personalidade ou um comportamento associado a outros fatores.
Por exemplo: dificuldade de socialização não é obrigatoriamente TEA e um ritmo mais acelerado não significa necessariamente TDAH.
Impactos na saúde mental e na educação
No campo da saúde mental, a avaliação neuropsicológica ajuda a tornar diagnósticos mais precisos, norteando o tratamento psiquiátrico adequado e evitando o uso de medicações desnecessárias – aspecto especialmente relevante em um contexto em que cresce a busca por diagnósticos de condições neurodivergentes como base para novas identidades sociais.
Na pedagogia, contribui para orientar professores e instituições de ensino no planejamento de estratégias mais adequadas para diferentes perfis de alunos. No contexto da clínica médica, é um recurso valioso para pediatras, neurologistas, psiquiatras e geriatras no delineamento de condutas terapêuticas.
Por que evitar o autodiagnóstico
Por todas essas razões, os testes neuropsicológicos isoladamente não podem ser utilizados para o autodiagnóstico. O acesso a versões disponíveis na internet, assim como interpretações feitas sem o suporte de profissionais especializados, não apenas conduz a diagnósticos equivocados, como reforça estigmas e favorece intervenções médicas desnecessárias.
A avaliação neuropsicológica é realmente útil quando bem indicada pelo médico do paciente e conduzida por neuropsicólogo. Afinal, seu objetivo não é fornecer um rótulo ou uma resposta rápida. É, sim, contribuir para a construção de estratégias de cuidado, planejamento de intervenções terapêuticas e pedagógicas, e melhoria da qualidade de vida.
Compartilhe essa matéria via: