A relação entre o café e a saúde do coração é estudada há anos pela ciência. Durante anos, havia certa desconfiança de malefícios, já que o excesso de cafeína pode acelerar os batimentos cardíacos. Mas essa imagem tem ficado no passado.

Hoje, uma série de estudos aponta que o consumo moderado de café pode, na verdade, proteger o coração. Ou seja, dá para apreciar sua xícara diária sem culpa – e a ciência já sabe quanto de café você deve tomar por dia, qual o melhor modo de preparo e, até, possíveis horários ideais.

Por que café faz bem?

Recentemente, uma pesquisa conduzida por centros de estudos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália animou os amantes da bebida. Na análise, 200 pessoas com fibrilação atrial – o tipo mais comum de arritmia – foram divididas em dois grupos: um continuou tomando café diariamente, e o outro que foi instigado a parar o consumo.

O resultado mostrou que a recorrência da arritmia foi menor entre os que mantiveram o café (47%) em comparação com os que pararam (64%). Em outras palavras, o consumo de uma xícara de café por dia esteve associado a 39% menos risco de arritmia.

A explicação para isso pode ser o fato de que o café contém centenas de compostos bioativos. A cafeína é a mais conhecida (e polêmica) delas, mas longe de ser apenas um estimulante, ela também atua bloqueando os receptores de adenosina, substância que, em excesso, pode favorecer a ocorrência das arritmias.

Além disso, há evidências de que o café tem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes (que zelam pelas nossas células), e pode contribuir para melhorar o metabolismo e o controle da pressão arterial. Mas, para curtir essas benesses, não se pode exagerar.

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Quanto café posso tomar por dia?

Para os cafés coados, o ideal é ingerir até três xícaras por dia. “E não ‘xicrinhas’, mas xícaras comuns, de cerca de 200 a 220 ml”, destaca o cardiologista Luiz Antonio Machado César, diretor da Unidade de Coronariopatia Crônica do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da (FMUSP), que pesquisa há décadas os efeitos do café no organismo.

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Geralmente, isso corresponde a seis ou sete colheres de sopa de pó para um litro de água.

No caso dos expressos, o equivalente seria não mais que cinco ou seis copinhos por dia. Essa quantidade é considerada segura e benéfica para pessoas de até, pelo menos, 65 anos. “Embora não existam estudos mostrando que depois dessa idade o consumo seja prejudicial, essa é a recomendação usual”, explica o médico.

Quando o consumo passa desse ponto, o risco se torna maior que o benefício. “Muitas vezes, pessoas que vão estudar à noite tomam um litro e meio de café. Isso é um exagero. Você vai ter uma sobrecarga de cafeína, o que pode causar ansiedade e aumento da frequência cardíaca.”

O limite existe por causa da cafeína. Ela estimula o sistema nervoso central e traz vários benefícios, mas, se você tomar demais, pode  sentir nervosismo e palpitações (e lembre: acelerar o coração não é sinônimo de causar arritmia).

Outro ponto importante é que a cafeína é apenas um dos inúmeros componentes do café, como os polifenóis. “A maioria dos efeitos positivos vem de outras substâncias antioxidantes e bioativas presentes na bebida”, explica Machado.

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Ademais, não é só sobre limites. Há também uma quantidade mínima para observar benefícios: duas xícaras de café ou dois a três expressos por dia. “Estudos mostram que a partir daí começam as vantagens em comparação com pessoas que não ingerem café”, completa o cardiologista.

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Qual é a melhor forma de fazer café?

Cafés como o árabe ou o feito na prensa francesa ficam em contato com a água por muito tempo, o que pode diluir parte dos benefícios. Aliás, o processo de descafeinação, inclusive, envolve “lavar” o café com água, eliminando parte da cafeína.

Por isso, o ideal é não deixar o pó muito tempo em infusão. Portanto, se você é do tipo que, ao fazer café filtrado, aquece a água e depois joga o pó direto na panela, pode estar fazendo errado, alerta Machado.

O jeito certo é colocar o pó no filtro e despejar a água aquecida por cima, lentamente.

Café expresso ou café coado?

Apesar de circularem boatos de que o café expresso aumentaria o colesterol, o médico explica que a quantidade de compostos com esse potencial é muito pequena.

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Além disso, eles elevam tanto as partículas de colesterol ruim, o LDL, como as de colesterol bom, o HDL. “Portanto, não vejo isso como um diferencial”, diz. Ou seja, dá empate com o café de filtro.

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Melhor horário para tomar café

Uma pesquisa publicada em 2025 no European Heart Journal, sugere que beber café pela manhã está associado a um menor risco de morte por doenças cardiovasculares. E chances mais baixas de morrer por qualquer outra causa.

Os estudiosos trabalharam com a hipótese de que a ingestão à tarde ou à noite possa interromper os ritmos circadianos, que são como relógios biológicos do organismo. Para eles, isso poderia interferir em fatores de risco cardiovascular, como inflamação e pressão arterial.

No entanto, os próprios estudiosos ponderaram que o foco da investigação em si era saber os motivos pelos quais tomar a bebida logo cedo diminui o risco de fatalidades cardíacas.

Para Machado, a defesa de um horário correto é um mito. “Só existe um estudo que tratou desse tema, e não vejo suporte para afirmar que há um horário melhor”, afirma o especialista.

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Segundo ele, os benefícios observados em estudos clássicos feitos com grandes populações se mantêm independentemente do horário em que a bebida é consumida. “A gente sabe que a maioria das pessoas não toma café apenas de manhã, então, provavelmente, esse não era o único horário de consumo de grande parte dessas pessoas [que participaram dos estudos]. Mesmo assim, os efeitos positivos aparecem”, avalia.

Pessoas mais sensíveis à cafeína podem ter dificuldade para dormir ao ingerir café no fim do dia, mas, para obter vantagens à saúde, o importante mais não é quando você toma, e sim como e quanto.

No fim das contas, o cafezinho continua sendo um dos prazeres mais simples e democráticos do dia a dia. De quebra, ele ainda é um aliado da saúde. O segredo está no equilíbrio: escolher o seu favorito e saboreá-lo sem exagero.

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