Em poucos dias, termos como “Ozempic de pobre”, “Ozempic natural” ou “Mounjaro de pobre” dispararam nos buscadores da internet, impulsionados pela busca por soluções rápidas e baratas para perder peso. Invariavelmente, a alcunha se referia ao psyllium (ou psílio), uma semente que ajudaria na saciedade.
O Google enviou com exclusividade à VEJA SAÚDE dados sobre o assunto. Em primeiro lugar, nunca se pesquisou tanto sobre psyllium no Brasil. Em dois anos, as buscas com o termo mais que dobraram, e o país é o que mais se interessa pelo tema no mundo.
As consultas com a palavra-chave “ozempic de pobre” aumentaram 5.000%, afirma a empresa.
Mas até que ponto a promessa é verdadeira? E faz sentido ir atrás desse produto pensando em obter efeitos semelhantes aos medicamentos utilizados no emagrecimento?
Afinal, o que é o psylllium?
O psyllium vem das sementes de um vegetal conhecido cientificamente como Plantago ovata e é considerado uma “superfibra”.
Como ocorre com outras fibras, ele tem, sim, potencial de aumentar a sensação de saciedade, fazendo com que a pessoa acabe comendo menos, algo fundamental para a perda de peso.
Suas propriedades também ajudam a controlar os níveis de colesterol e o índice glicêmico, além de contribuir com o funcionamento do intestino.
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Ele é capaz de substituir o Ozempic?
O psyllium é capaz de ajudar quem busca perder peso, pois tem potencial para reduzir a vontade de comer. Isso ocorre porque essa fibra é capaz de se expandir e formar uma “goma” ao entrar em contato com a água após ser ingerida, especialmente quando isso é feito antes das refeições.
Mas é importante não confundir as coisas: tanto o Ozempic, à base de semaglutida, quanto o Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, são medicamento e, pela bula, devem ser indicados para casos de diabetes. No Brasil, eles também têm sido usados off label (fora da indicação da bula) para quem busca o emagrecimento.
A forma como o psyllium age no corpo é diferente daquela dos fármacos, que são desenvolvidos especificamente para esse fim. Ou seja, ele até pode ajudar a controlar o peso, mas nunca terá o mesmo efeito desta nova geração de medicamentos, que hoje promovem perdas de peso na casa dos 20%.
Na verdade, estudos já testaram o potencial emagrecedor da semente. Em algumas pesquisas, ela sequer levou à perda de peso. Quando se saiu melhor, a perda de peso foi de 2 quilos em média, como aponta esta revisão sobre o assunto. Ou seja, bem diferente dos remédios.
“Isso se trata de propaganda enganosa. O psyllium tem um efeito discreto na saciedade, mas não existe nenhum alimento ou suplemento que apresente a mesma atuação da semaglutida”, esclarece a nutricionista Thaís Sarian, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Ela é categórica. “Estamos falando de um medicamento com ação farmacológica, prescrito em situações específicas e que exige acompanhamento médico. Comparar esse tratamento ao uso de um suplemento como o psyllium, que tem outro propósito e efeitos bem mais limitados, é um erro”, alerta.
Além disso, a efetividade de cada produto varia de pessoa para pessoa e dos objetivos pretendidos, seja perder peso, controlar a glicemia etc. Por isso, o uso deve ser feito sempre com orientação de um profissional de saúde.
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Como usar o psyllium
Para quem busca utilizar o psyllium como auxiliar na saciedade, o recomendado é utilizá-lo (em pó ou cápsula) cerca de meia hora antes das refeições, junto de um copo de água. Não exceda o limite de 30 gramas por dia. O uso excessivo pode ter efeitos contrários ao que se deseja, entre outros problemas.
“Se consumido sem água suficiente, pode agravar a prisão de ventre ou até causar obstrução intestinal. Em excesso, pode provocar gases, cólicas e ainda atrapalhar a absorção de medicamentos”, aponta a nutricionista.
Tanto a obesidade quanto a diabetes são doenças sérias e crônicas, que precisam de tratamento médico. Neste contexto, o psyllium até pode ser um aliado da saúde, mas nunca empregado como medicamento.
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