Para muitas pessoas, o momento de ir para a cama pode ser acompanhado de angústia. Durante o repouso, elas são tomadas por uma sensação incontrolável de movimentar os membros inferiores.
Estamos falando da síndrome das pernas inquietas, um distúrbio conhecido por alterações da sensibilidade e pela presença de uma agitação motora involuntária.
“Perto da hora de dormir, começa a agonia, por isso é considerado um distúrbio do sono. O quadro pode ser de leve a muito acentuado e, em casos intensos, o incômodo é tão grande que impede que a pessoa durma”, resume a médica neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono.
Em geral, há uma melhora com o movimento. “Então, o indivíduo tem que ficar caminhando, batendo o pé no chão ou fazendo massagem até aliviar, o que pode durar horas”, acrescenta Poyares.
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O que é a síndrome das pernas inquietas?
A síndrome das pernas inquietas é um distúrbio neurológico caracterizado por uma necessidade irresistível de mover as pernas, geralmente acompanhada por sensações desconfortáveis ou desagradáveis.
“Esses incômodos ocorrem predominantemente durante períodos de repouso ou inatividade, especialmente no período da noite, e tendem a ser aliviados temporariamente com o movimento”, detalha a médica do sono Leticia Soster, do Hospital Israelita Albert Einstein.
As causas podem ser divididas em duas classificações. As primárias, também chamadas de idiopáticas, não estão associadas a outras condições médicas e frequentemente têm um componente genético, com início dos sintomas antes dos 45 anos e tendência a piorar com o tempo.
Já as secundárias têm relação com outras questões de saúde. “Podemos citar deficiência de ferro, insuficiência renal crônica, doença de Parkinson, diabetes, artrite reumatoide, gravidez e uso de determinados medicamentos, como antidepressivos, antipsicóticos, anti-histamínicos e bloqueadores dos canais de cálcio”, elenca Soster.
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Quais são os principais sintomas?
As principais manifestações são sensações incômodas nas pernas, descritas como formigamento, queimação ou impressão de insetos rastejando nos membros inferiores.
“A síndrome das pernas inquietas pode acometer todas as faixas etárias desde a infância e é caracterizada por um desconforto que acomete as pernas e, eventualmente, os braços, em quadros mais graves”, afirma a otorrinolaringologista e especialista em sono Mariane Yui, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da síndrome das pernas inquietas é realizado a partir de avaliação médica, com base em critérios estabelecidos pela International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG), que incluem:
• Necessidade de mover as pernas, geralmente acompanhada por sensações desconfortáveis.
• Início ou piora dos sintomas durante períodos de repouso ou inatividade.
• Alívio parcial ou total dos sintomas com o movimento.
• Piora dos sintomas no final da tarde ou à noite
Além disso, é importante realizar uma avaliação clínica detalhada e exames laboratoriais para identificar possíveis causas secundárias, como deficiência de ferro ou outras condições médicas associadas.
“Em alguns casos, estudos do sono podem ser indicados para avaliar a presença de movimentos periódicos dos membros durante o sono, que frequentemente acompanham a síndrome das pernas inquietas”, acrescenta Soster.
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Como é feito o tratamento
A necessidade de tratamento depende da frequência e da intensidade dos sintomas. A prática diária de atividades físicas ajuda a atenuar os sinais e, em casos mais leves, pode ser a única intervenção.
“Vale evitar o consumo de alimentos que podem piorar o quadro, como açúcar, bebidas ricas em cafeína ou alcoólicas e estimulantes. Fazer um bom acompanhamento da sua saúde e controle de condições crônicas. E sempre consultar um especialista para orientações personalizadas e seguras”, aponta Yui.
“Quando a síndrome acontece em associação com outras condições médicas, como anemia, doença da tireoide, doenças metabólicas e renais e outros distúrbios do sono e nesses casos, o tratamento dessas condições é essencial”, pontua Yui.
Casos persistentes ou intensos podem ser tratados com medicações para alívio do desconforto. “É sempre recomendável que qualquer decisão sobre o tratamento seja tomada com o acompanhamento de um médico especialista”, acrescenta a otorrinolaringologista.
É uma doença preocupante?
Na ausência do tratamento adequado, a síndrome das pernas inquietas pode prejudicar o início e a manutenção do sono, levando a quadros de insônia.
“Nesse contexto, há uma redução da qualidade de vida, com aumento do risco de doenças cardiovasculares e metabólicas e de transtornos do humor”, frisa Yui.
Não existe cura, mas os sintomas e as doenças associadas podem ser controlados, evitando a piora do quadro. “O acompanhamento com um profissional de saúde é indispensável para definir a melhor estratégia terapêutica em cada caso”, ressalta a médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
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