A cada mil nascimentos no Brasil, cerca de dez resultam em óbito neonatal. Além disso, aproximadamente 20% das gestações terminam em aborto espontâneo.

No mundo, cerca de 2 milhões de bebês nascem sem vida por ano – um natimorto a cada 16 segundos. Para piorar, 40% destas mortes ocorrem durante o trabalho de parto. Mais de 5 milhões de crianças morrem anualmente no mundo, quase metade no primeiro mês de vida.

Esses números evidenciam a urgência de um acolhimento adequado para famílias que enfrentam essa perda. Ainda assim, o luto perinatal continua sendo um tema silenciado, envolto em tabus e incompreensões. Para muitas famílias, essa perda significa viver uma dor que a sociedade minimiza ou ignora.

Assim como a gravidez não é somente um processo biológico, o luto perinatal não é só sobre a morte do bebê, mas sobre os planos interrompidos e a quebra de vínculos e expectativas. O impacto pode se estender por anos, afetando a saúde mental dos pais e suas relações.

Frases como “Foi melhor assim” ou “Você pode ter outro filho” minimizam o sofrimento e reforçam a sensação de isolamento. O que essas famílias mais precisam não é de justificativas, mas de acolhimento.

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A sociedade ainda não está preparada para acolher o luto. Há uma pressa em fazer a dor desaparecer, como se fosse algo menor ou passageiro. A escuta atenta e a presença empática são essenciais para permitir que essa dor seja vivida sem culpa ou pressões sociais.

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Outro ponto ignorado é o luto paterno. Os pais também perderam um filho e sentem essa ausência. Além disso, familiares próximos podem vivenciar um processo intenso de luto, tornando fundamental um suporte ampliado.

Como lidar com o luto perinatal

Medidas concretas fazem a diferença. Hospitais humanizados permitem que os pais segurem seus bebês após a perda e guardem recordações, como fotos e impressões das mãos e pés. Em países como a Inglaterra, berços refrigerados são usados para que as famílias tenham mais tempo para se despedir.

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No Brasil, algumas instituições começaram a adotar medidas semelhantes, mas ainda há um longo caminho para tornar essas práticas padrão.

O acolhimento psicológico também é importante. Profissionais capacitados podem auxiliar na elaboração do luto para encontrar formas de lidar com a perda. Grupos de apoio formados por outras famílias que passaram pela mesma experiência podem contribuir para romper o isolamento e compartilhar vivências.

Criar uma caixa de memórias com recordações do bebê pode ajudar no processo de luto. Guardar fotos, mechas de cabelo ou impressões dos pés são práticas que validam a sua existência e ressignificam a perda. Pequenos gestos fazem a diferença.

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Falar sobre luto perinatal é uma forma de dar visibilidade a essa dor e combater a cultura do silêncio.

Precisamos evoluir para uma sociedade que valide todas as formas de sofrimento e ofereça um ambiente seguro para que essas famílias possam expressar suas emoções sem julgamentos. O primeiro passo para isso é ouvir, acolher e respeitar o tempo de cada um.

Porque toda perda importa, e toda dor merece ser reconhecida.

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*Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline

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